Entrevista com Carlos Henrique Cavallari Machado


Carlos Henrique Cavallari Machado, superintendente adjunto de Melhoramento Genético da ABCZ

Formado em Zootecnia pela FAZU – Faculdades Associadas de Uberaba. Hoje atua como professor das Disciplinas de Diagnóstico e Zebuinocultura na FAZU. Além da vida acadêmica, tambem integra a diretoria da Sociedade Brasileira de Melhoramento Animal e é  superintendente adjunto de Melhoramento Genético da ABCZ

Entrevista concedida para os membros Danielle Borges e Luiz Felipe Chagas Barreto.

Uniube Med Vet: Com o resultado da expogenética do ultimo ano, uma grande expectativa foi gerada para a exposição de 2012. Traçando um paralelo com a EXPOZEBU, que provocou o desenvolvimento do gado zebuíno, como você vê o cenário após cinco anos de ExpoGenética?

Carlos Henrique Cavallari Machado: A ExpoGenética a cada ano ela vai se consolidando. É uma proposta um pouco diferente da EXPOZEBU. A EXPOZEBU tem um público um pouco diferente. A ExpoGenética é pautada em números, animais que tenham sido testados, animais que tenham uma avaliação genética em programas. Para participar da ExpoGenética, o animal tem que ser Top 20% nesses programas. A variação genética é a essência da exposição e depois, logicamente, tem o fenótipo, tem toda a parte racial e assim por diante. Na EXPOZEBU, a parte de fenótipo é um pouco mais pesada, tem também o apelo do desempenho do animal, mas com outro foco. Então, elas são complementares, uma voltada um pouco mais para o fenótipo e a outra mais focada na genética.

Uniube Med Vet: Qual é a importância da Expogenética no cenário atual do melhoramento genético no Brasil?

Carlos H.: A ExpoGenética é interessante porque além de incentivar e demonstrar pro Brasil inteiro a importância de trabalhar com animais testados, ela é democrática, pois permite que todos os programas do Brasil exponham seus produtos aqui. A ABCZ tem um programa próprio, o PMGZ, e poderia deixar aqui só o PMGZ, mas não. A Associação Brasileira dos Criadores de Zebu, também tem como objetivo o melhoramento do gado zebuíno, independente de qual programa o criador participar. O importante é que o criador participe de algum programa. Ela tem um para oferecer, caso o criador não se identifique com ele, tem outros programas também de melhoramento. O importante é que a raça zebuína evolua.

Uniube Med Vet: Qual é o perfil do público que pode se beneficiar com a programação da ExpoGenética?

Carlos H.: A exposição é bem democrática, tem várias tribos. Nós temos alunos de faculdades, de várias regiões, o ano passado vieram do Pará, Rio Grande do Sul, deve vir do Paraná este ano, Uberlândia, toda nossa região; Pesquisadores, alguns dos maiores pesquisadores do Brasil vão passar por aqui durante a semana, todos de renome internacional; e cada vez mais, os usuários dessa genética estão vindo, afinal de contas, é para eles essa exposição. O objetivo final é mostrar para esses usuários que eles têm crescido, tem vindo aqui ver os animais, conhecer os programas, os grandes reprodutores, tem dado resultado.

Uniube Med Vet: As palestras que serão ministradas têm como objetivo difundir o conhecimento desenvolvido. Qual é a importância dos estudos zootécnicos para este desenvolvimento? E qual é o papel do médico veterinário no mesmo?

Carlos H.: Este terá o 1º Congresso da raça Gir, que é um momento importante, e os temas que serão discutidos são três temas de ponta. Serão discutidos, a utilização prática da ultrassonografia de carcaça no melhoramento, o tema eficiência alimentar e a parte de genômica. São três pontos latentes que estão sendo debatidos e vão delinear o melhoramento nesses próximos anos. Então, são três temas principais para nós atuarmos. Isso, logicamente, repercute na parte acadêmica, porque são temas que são muito novos. O pessoal está aprendendo ainda, nem tem livro sobre os assuntos. Então, para os professores vai ser interessante também, pois vão poder aprofundar em temas que são plenamente atuais.

O veterinário tem que ficar atento a isso. São novidades. O futuro é a genômica. Eu não sou muito da parte de que diz, “a zootecnia faz isso”. Eu acho que nas ciências agrárias todo mundo tem que ficar atento. Veterinário e zootecnista tem que estar juntos. Eu não sou muito de entrar nessa discussão de o que um veterinário pode fazer. Então a parte de genômica e melhoramento são só para o zootecnista, para mim não tem nada disso. É um conjunto. A parte genômica, por exemplo, é fundamental ter um veterinário que vai dar assistência, não só na parte sanitária, mas que tenha um conhecimento. A genômica é um futuro interessante, tanto na parte de produção como na identificação de doenças específicas. A eficiência alimentar, não só na parte de produção, mas também na parte de nutrição e sanidade nutricional. Então, com certeza o veterinário tem pontos que abrangem todas as áreas. Então o veterinário tem sim que participar, não é só no melhoramento genético, é sanidade, é melhoramento, é produção, é tudo.

Uniube Med Vet: Estima-se que o rebanho brasileiro seja cerca de 200 milhões de cabeças, grande parte deste é zebuína. Qual é o reflexo dos programas de melhoramento, como PMGZ e PNAT, para a melhoria deste atual rebanho?

Carlos H.: As raças zebuínas estão presente em cerca de 80% do rebanho brasileiro. A ABCZ e o PMGZ trabalham com um núcleo de animais registrados, em torno de 5 a 7% desse rebanho. Então, qualquer melhoria, qualquer identificação de um bom animal, que vai doar sêmen, que vai ser doadora de embriões, tem uma repercussão muito grande na cadeia, na pirâmide do melhoramento. A ABCZ trabalha no topo da pirâmide, com um grupo muito pequeno de animais. Por isso que é levado muito a sério, porque tudo que é feito nesse núcleo, interfere na cadeia produtiva. O PNAT é um teste de progênie. É uma maneira de testar tourinhos rapidamente. Para você testar um touro, demora muito tempo. Tem que esperar nascer as filhas e aí nasce muitas filhas em um rebanho e a couraça é muito baixa, por ter muitas filhas em um rebanho só. Hoje não. Hoje nós pegamos os tourinhos, colhemos o sêmen e distribui o sêmen, então nascem vários filhos em vários rebanhos. Então, como o rebanho vem em formação, já vem uma formação com alta qualidade e com alta couraça.

Uniube Med Vet: Atualmente, a sustentabilidade está em foco no cenário mundial. No Brasil, muito se fala que a pecuária cresce em detrimento do meio ambiente. Qual é a importância do melhoramento genético para a sustentabilidade na bovinocultura preconizada pela ABCZ?

Carlos H.: O melhoramento e o zebu contribuem de maneira importante para a parte de sustentabilidade da pecuária. O melhoramento genético faz com que os ciclos de produções sejam menores. Então, diminuindo o ciclo de produção, os animais são abatidos mais precocemente, você acaba tendo vantagens como um consumo de energia menor, a quantidade de esterco é menor, a eructação é menor, tudo é menor. O ciclo fica mais barato e o consumo é menor, pois o ciclo também fica menor. O zebu também contribui porque o animal está adaptado ao meio ambiente. Quanto mais bem adaptado ao meio ambiente, menos ele requer da energia do ambiente. É menos medicamento, é menor a alimentação, então, o melhoramento e o zebuíno é um animal indicado para um sistema mais produtivo e sustentável, por ter menos exigências nutricionais e ser sanitariamente mais saudável. O melhoramento acaba fazendo que animais mais bem adaptados tenham uma produção melhor, portanto são os animais escolhidos e os animais de ciclos mais rápidos.

Uniube Med Vet: Este ano, temos como novidade na ExpoGenética o 1º Congresso Mundial do Gir Leiteiro. Qual é a importância do desenvolvimento de raças leiteiras e resistentes à altas temperaturas para o mercado brasileiro?

Carlos H.: Minha palestra no 1º Congresso Mundial do Gir Leiteiro e na 49º Reunião da Sociedade Brasileir de Zootecnia em Brasília, é sobre isso. Como nós vemos a participação das raças zebuínas no futuro da pecuária de leite. O zebu, até então, ele entrava na cadeia produtiva do leite como simplesmente um material genético que dava rusticidade ao gado leiteiro. Só isso. Agora está mudando isso. O zebuíno leiteiro, Gir, Guzerá, Sindy, praticamente o Gir, é um dos mais importantes nesse momento. A avaliação genética e os testes de progênie, fazem com que o gado zebuíno, comece a colaborar efetivamente para o melhoramento do leite também. Continua tendo uma rusticidade adequada, mas também aumenta o leite. Então, a responsabilidade do zebu na cadeia é maior. Aliado a isso, nos temos trabalhado no zebu leiteiro, também questões, não só de sanidade como de qualidade do leite. Por exemplo, nós hoje nos preocupamos muito em identificar animais que além de produzir muito leite tenham melhores qualidades de proteínas, de gordura, de sólidos, a células somáticas também são verificadas nos animais. Alguns termos importantes, isso é mais para o futuro, mas também são verificados, como a proteína A2, que é exclusiva das raças zebuínas. As pessoas alérgicas ao leite, na verdade são alérgicas a proteína A1, que pode ser taurina. Então, o leite de uma vaca zebuína, em grande parte, é uma opção. Há uma preocupação também, por exemplo, que aumentando a produção, você diminui a rusticidade. Mas nós estamos trabalhando já com essa preocupação, de trabalharmos com animais com alta produção, porém, mantendo a rusticidade e principalmente descobrir qual é o ponto de equilíbrio disso. Não é quanto mais melhor. Nós não queremos pegar uma vaca da raça Gir e transformar em uma raça Holandesa. Quanto mais leite melhor, não. Tem que ter um ponto de equilíbrio. Então, a contribuição do zebu para a pecuária de leite do Brasil, ela iniciou, de uns anos para cá, um processo novo. Que é contribuir para a rusticidade, mas também com a quantidade e a qualidade do leite.

Comentários Recentes

  1. Unknown disse:

    parabens aos idealizadores...

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